São
8 da manhã e o sol já bate forte.
Faço
um alongamento.
Desço
pela escada, vou me aquecendo.
Bom
dia, seu Modesto, tudo bem?
Seu
Modesto, um dos porteiros, é um senhor negro, baixo, meio atarracado e meio careca.
Gente
boa, o seu Modesto.
Ele
fala do vinho que lhe dei: “Ó, muito legal, viu? Muito bom!
(fazendo
sinal de OK com o polegar)
Minha
senhora fez lá um peru assado no vinho
-
ela gosta de fazer essas coisas, né?
Ficou...
oh!...Legal!... Brigado, tá?”
De
nada, seu Modesto, deixa eu ir, um abraço.
O
céu está azul, com algumas nuvens decorando o topo da Serra da Mantiqueira.
Cinco
minutos andando e já estou na Beira-Rio.
Bom
dia! (Aqui, a maioria das pessoas se cumprimenta).
Sigo
pela sombra das árvores,
árvores
frondosas que margeiam o rio,
enquanto
ele desce soberbo, banhando a cidade.
São
pés de ingá, jamelão, pitanga, goiaba, manga,
gameleira,
quaresmeira, ipê roxo, ipê amarelo e outras tantas que não sei.
Pequenas
pontas de galhos se espalham pela calçada, resultado do granizo de ontem à
tarde.
Já
vejo as duas senhoras, que varrem, todos os dias.
Estão
varrendo de lá pra cá.
Quando
as cumprimento, respondem prontamente,
com
entusiasmo.
Um
cumprimento pode ser um alimento para a alma.
-
Olá!
Esse
olá foi para uma moça bonita, de óculos escuros, rabo de cavalo (o do cabelo, não o dela).
Essa
sempre fala comigo.
Muitas
pessoas caminham aqui, outras preferem o belo Parque das Águas, ao lado.
Algumas
falam com a gente,
outras
fingem que não estão vendo,
talvez
por timidez, ou por ignorância mesmo.
Há
uma velhinha, que também não fala com ninguém, e caminha todos os dias, rezando
o terço!...
Será
que reza mesmo?
-
Ôpa, tudo bom?
Não
foi pra ela, não.
Foi
para um camarada, que também não sei o nome,
mas
sempre que passa, cumprimenta a todos.
Passo
agora perto da minha árvore predileta!
Não
sei o nome dela.
É
bastante alta, com muitos galhos robustos,
que
se estendem sobre o rio.
Um
dia ainda vou contar quantos galhos ela tem.
Deve
ser centenária, a julgar pela imponência e tronco de mais de um metro de
diâmetro.
-
Oi, tudo bem?
Não,
hoje ele não veio. Agora é minha vez.
Não
dá pra andar com ele muito rápido,
ele
pára toda hora pra cheirar, fazer xixi... tchau!
É
uma moça e seu cachorrinho.
Ela
perguntou pelo Billy, nosso miniatura pinscher.
Acho
que ela aprendeu comigo,
pois
está levando um saquinho plástico!
Algumas
pessoas são tão caras-de-pau,
que
trazem os cachorros para caminhar e fazer cocô,
sem
sequer se preocuparem com a sujeira.
Estou
tentando impor novos hábitos...
E
estou conseguindo.
Vou
voltar daqui, já cheguei ao final da calçada.
Vou
até a outra ponta.
Mais
uns 20 minutos e eu chego lá.
Bom
dia, iiiiiih!, não respondeu!!!
É
assim mesmo.
Algumas
mulheres caminham como se estivessem sozinhas,
só
olham pra frente, nariz empinado, bunda arrebitada... Se acham! Fazer o quê,
né?
Se
eu fosse o Brad Pitt, aposto que olharia pra mim e daria o maior sorriso!...
Ôpa,
caraca! Dei uma ligeira tropeçada.
É
que eu olho para todos os lados,
apreciando
a natureza e, claro,
as
beldades que passam,
as
árvores que ficam,
os
pássaros que cantam,
que
voam, esvoaçam,
chicoteando
o espaço...
O
rio que desce...
Os
patos d’água que nadam, fazendo barulho,
as
garças, em voos rasantes sobre a água...
Um
galo que canta do outro lado do rio...
Os
sabiás que cruzam a calçada, quase se deixando pisar...
Sanhaços
e canarinhos da terra, a colorir o lugar...
Se
fosse na primavera,
haveria
também os ipês floridos para se ver.
“BiBi”...
Passa um carro e buzina.
Olho,
porque a buzina chama atenção.
Ah!...
Mas vejam pra quem foi a buzinada!...
Para
uma garota que passou correndo,
de
bonezinho, óculos escuros e aquele bumbum arrebitado!
(Não é aquela, não. Essa é apenas mais
uma...)
Ôps!
Outro tropeção!
Alguém
deve ter dito “bem feito!”
Em
meio à sinfonia de inúmeros pássaros,
à
brisa refrescante e ao belo visual,
continuo
caminhando...
Já
se passaram 45 minutos.
É
hora de voltar. Até em casa, mais uns 5, tá bom.
Amanhã,
estarei aqui de novo, caminhando,
vendo
as belezas do lugar,
e
sempre desejando que as pessoas que eu gosto
estivessem
também aqui, caminhando comigo.
Por
hoje, vou encerrar o meu monólogo,
ou,
como diria aquela loira falante,
o
meu “diálogo solitário”
Tchau!